Até lá, a integrante da seleção brasileira tenta tirar proveito do intercâmbio. A oportunidade de atuar na equipe, que conta com duas medalhistas de prata nas Olimpíadas de Atenas-2004, com a holandesa que foi artilheira do Mundial de Roma e com a goleira titular da Grécia, surgiu depois que Marina manifestou o desejo de deixar o clube que defendia na Itália. Estava cansada do país, dos italianos e de todas as dificuldades que enfrentou ao longo de dois anos.
- Era meio difícil porque havia um preconceito com estrangeiros. Eu queria ir para outro lugar. Comentei com a holandesa que joga aqui e, um mês depois, o técnico me ligou. Conversamos no Mundial e assinei o contrato lá mesmo. Está sendo muito legal. Elas me dão muitas dicas, há uma troca de informação e eu também observo muito o que fazem. Gosto muito do tipo de polo que é jogado aqui, onde prevalece a habilidade. Nos Estados Unidos, as meninas são maiores e a força física é mais importante - disse.
Marina fala com conhecimento de causa. Há seis anos, um convite para estudar e defender a Universidade de Long Beach abriu as portas para a sua carreira internacional. O padrinho foi Ricardo Azevedo, técnico da seleção americana masculina e pai da maior estrela do time: Tony Azevedo. Hoje, ela é mais associada ao polo dos Estados Unidos do que ao do Brasil. - As meninas falam muito que eu vim da escola americana porque fiquei quase quatro anos lá e tenho o estilo dela. Mas a escola europeia é a que se aproxima mais do jogo brasileiro. Acho válido que a Confederação contrate um treinador estrangeiro visando aos Jogos de 2016, mas para auxiliar os bons técnicos que temos no país. Também tem que ser uma pessoa conceituada e com ideias. No Brasil só há um campeonato de verão e outro de inverno. Se pudéssemos ter mais experiência, treinar e não precisar trabalhar, o nível seria igual. Todas da nossa seleção tiram férias no trabalho para poder viajar para o Mundial.
Na Europa, a situação é bem diferente. A possibilidade de viver do esporte é algo real. Marina diz que nenhuma de suas companheiras precisa exercer outra atividade profissional. As que são donas de medalhas olímpicas recebem um salário vitalício do governo grego. Na Itália, algumas faziam fotos como modelos e até ela chegou a posar para um calendário com outras integrantes do time. E nem mesmo todas as vantagens fizeram a brasileira pensar em solicitar a dupla cidadania.
A dificuldade com o idioma permanece. Embora tenha aprendido algumas palavras, a ida até o supermercado continua sendo uma aventura. Ainda assim, conseguiu comprar, com uma boa dose de sorte, as latas de leite condensado que tanto queria para fazer os brigadeiros de sua festa de aniversário. O doce agradou tanto, que ela perdeu as contas de quantas vezes teve de repetir a receita.
Marina Canetti em dia de folga na Grécia